sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DESAMBIÊNCIA/DESAMBIENTIDADE

A ação ambiental, ou a vivência ambiental ativa, é afirmativa, desproposital, hemenêutica, poiética, performativa, estética, per-feita (enquanto modo vivenciativo de fazer). Dá-se na vivência ambiental de nosso modo fenomenológico existencial de sermos, como desdo-bramento, atualização, das possibilidades que inerentemente nos im-pregnam, na duração dos momentos deste modo de sermos. A di-sambiência/disambientidade se constitui a partir de dificuldades na relação ambiental, e se caracteriza como ação e vivência problemáti-cas (im-per-feitas) no sermos ambientais. A permanência da disam-biência conduz e modela a Desambiência/Desambientidade, ou seja: não apenas uma dificuldade de vivência ambiental propriamen-te, mais ou menos transitória, ao modo ontológico de sermos, mas uma progressão e cronificação do ambiente como objeto, e uma visão meramente objetiva, utilitária, pragmática do ambiente; ou uma vi-são meramente conceitual dele. Na Desambiência, na verdade, cresce uma aversão à vivência do ambiente em sua propriedade on-tológica, fenomenológico existencial dialógica; e se instala uma expe-riência meramente teórica, e aversiva, do ambiente; ou uma perspec-tiva utilitária, mera ou predominantemente pragmática, e/ou comportamental, fundadas no ressentimento e no ideal ascético,.
Por exemplo, o homem e a cultura coloniais Brasileiros, geogra-ficamente alienígenas, e impulsionados por fortes determinantes eco-nômicos e culturais, desenvolveram uma relação alienígena, disambi-ental e desambiental, com a Mata Atlântica, e na verdade com todas as matas. Interpretaram as matas em termos de que deveriam e de-vem ser necessariamente destruídas e aniquiladas. Eventualmente com uma postura pragmática, objetivista, que prosperou, na ausência e repressão de uma relação ontológica com o ambiente, que permi-tisse o desenvolvimento de uma sociedade e cultura ambientais.
Esta condição, disambiental, e desambiental, do homem e da cultura coloniais Brasileiras pode ser melhor entendida quando con-trastada com a atitude e cultura ambientais dos insurgentes Cabanos de 1832-64, da região do Litoral, Mata, e Agreste, do Norte de Alago-as, e do Sul de Pernambuco.
O termo Cabanagem, dado à insurreição, deriva de cabanas, das cabanas que os Cabanos construíam nas matas, e que eventual-mente se congraçavam em Arraiais. Os Arraiais eram as bases fun-damentais das tropas cabanas. Os Cabanos eram Índios aldeiados, Caboclos, Negros, Mulatos, Mamelucos, Cafusos Curibocas, e Brancos pobres, que se voltaram contra a condição de opressão e decultura-ção que lhes era imposta pela ordem sesmeiro escravista imperial da cultura do engenho, da produção e exportação de açúcar. Em sua in-surgência eles especificamente se recusaram ao engenho e ao meio urbano da civilização do açúcar, inclusive à desambiência própria de-les, e optaram pela vida nas cabanas e nos arraiais em plena floresta, fazendo deles as bases de sua insurgência. Aí desenvolveram uma cultura ambiencial, ambientativa, com uma economia agrícola, e de caça, pesca, e coleta dos produtos da floresta.
O livro Utopia Armada, de Dirceu Lindoso, faz um importante registro e interpretação não só da Cabanagem enquanto insurgência, mas, em particular do ambiente e cultura ambienciais e ambientati-vos Cabanos. A cultura ambiencial Cabana se desenvolveu, e evoluía em oposição e numa direção oposta à desambientidade da cultura colonial imperial e sesmeiro escravista.